quinta-feira, 27 de junho de 2013

Vielas

São fadados a viver a céu aberto
com fome
São fadados a morrer
em vielas
ruelas
favelas

quarta-feira, 13 de março de 2013

Rodopiando em bolhas de ar

Minha mãe decidiu me chamar de João Gostoso, talvez pra levantar minha autoestima. Ela sempre soube de mim mais que eu mesmo.
Cada dia naquele lugar era um inferno na Terra. Queria ser um gênio e não precisar ir pra escola, - imagina todos me parabenizando, tentando entender como era possível tamanha inteligência. - Mas não fui presenteado com tal grado, assim como o da beleza (não se deixe enganar pelo segundo nome).
Cresci amargurado com todos os meus problemas, não sei se não gostava de ninguém, porque ninguém gostava de mim, ou se ninguém gostava de mim porque eu não gostava de ninguém. Tive o emprego dos pesadelos, mas eu precisava pagar as contas.
- Bom dia - passou uma senhora sorrindo ao meu lado, enquanto eu descia o morro do Vidigal para tomar uma cachaça antes de ir trabalhar, passei direto. Não fui presenteado com a simpatia também, engraçado. - Mas o que faço aqui? - pensei alto, enquanto olhava para o copo de sangue amargo e transparente. Levantei e decidi fazer aquele dia diferente, que fosse só aquele, não me importava. Paguei a meota e mergulhei pelos becos e vielas até chegar lá embaixo. Andei por todos os lugares, conheci velhinhos com historias mirabolantes. Sentado numa praça conheci um cara que inicialmente se dizia estudante de Economia em uma faculdade aí, e ele falava tudo com tanta certeza, e beleza, que não tinha como não acreditar. Absorto. Adorei essa palavra, não fazia ideia do que poderia ser, mas me encantou. Ele me disse que era o jeito que fiquei quando ele começou a falar do novo pacote de economia da França. Entendi e ri baixo em meus pensamentos. Qual era mesmo seu nome? Carlos, isso! Carlos, então, me chamou para ir a um restaurante chique, ali perto, que tinha uma picanha na tábua inacreditável. Realmente, sublime. Pedimos um chope. Nunca conversei tanto igual àquele momento, nem quando realmente quis. Algo estava diferente. Fui ao banheiro e, quando voltei, Carlos não mais estava. Foi o mais próximo do amor que já cheguei em minha vida, pelo visto também não seria presenteado com o amor. Minha mãe costumava dizer que o amor era a o ápice da vida, o ponto alto. Ela nunca teve ensino nenhum, mas era uma mulher sábia, a única de minha vida. Depois da conta paga, estava eu andando sobre o deck da Lagoa. Dancei. O ponto alto de minha vida acabara de escapar. Rodopiei. Caí. Nunca soube nadar, quando era pequeno um menino dois anos mais velho me jogou na piscina do clube, fiquei roxo, mas me salvaram. Enquanto as bolhas de ar chegavam na superfície, tudo passou como um flash. Vi minha mãe me dando tchau na porta da creche, vi Carlos me enganando no Leblon e depois me toquei de que deveria ter feito muito mais, ter sido muito mais. Morri. 





Obs: Trabalho feito para aula de Comunicação e Expressão. 

sábado, 29 de dezembro de 2012

O Melhor Ano


Nunca fui muito de acreditar em horóscopo, em casa não temos esse costume. No ano passado li, numa revista que comprei, que 2012 seria um ano de mudanças boas e ruins, claro que li e deu aquele suspiro de “até parece”, mas não acho que fiz errado, pois adoro me surpreender. Alguns já sabem de cor o que a vida lhes reserva e me sinto privilegiada por não ser uma dessas pessoas.
Num momento de imersão, me peguei pensando no que se passou em meu 2012 e percebi que não tinha me dado conta que a previsão que li há um ano estava certa. Caramba, esse ano foi uma Montanha Russa!
Logo em Fevereiro, a maior mudança de todas se deu por verdade, a pessoa que conheci na internet - e que logo se tornou o amor da minha vida - se mudou pra cá, pertinho de mim. Pra alguns pode não parecer nada, mas isso foi uma revira volta em nossas vidas, rotinas mudadas, uma vida completamente nova, sem contar que está sendo meu primeiro amor resolvido, recíproco, louco e verdadeiro. E isso afeta em uma outra mudança que comentarei mais a frente. Enfim.
Minha vida profissional não estava me satisfazendo, apesar de ter me criado madura como estou agora, foi um crescimento mental absurdo. Dei aulas por um longo período, fiz amizade com meus alunos, tentei ao máximo cumprir meu dever de transmitir meu conhecimento sobre aquele assunto, conheci pessoas maravilhosas e pessoas que, embora preferisse não conhecer, me deram experiências dignas de aplausos (porque graças a elas agora sei lidar com esse tipo).
Mas chega uma hora que você começa a se perguntar se é aquilo mesmo que você quer pra vida toda. “E minha profissão dos sonhos?” “E meus sonhos?”. São perguntas tão duras quanto um tapa na cara, pensar nisso é dolorido quando sabe que, por ora, não pode fazer nada pra mudar essa situação. Tentei, por meses, tentar encontrar uma solução, mas nada parecia concreto o suficiente pra me ajudar, foi quando Alguém que rege minha vida me deu um baita susto ao tornar mais um sonho realidade e quando dei por mim já estava na sala de aula do meu curso dos Sonhos, com professores renomados e pessoas incríveis.
Fiz ótimas amizades e, pela primeira vez, tive sucesso em alguma coisa. Talvez seja porque sempre quis isso pra mim, tornando mais fácil, nunca vou saber. Recebi elogios, fiz ótimas provas, li ótimos livros, conheci pessoas erradas, e pessoas certas até demais, discuti, não me calei...
Minha vida profissional ainda não me satisfazia e aquilo me incomodava muito, agora alem de conflitos internos sobre esta, não estava conseguindo chegar no horário certo das aulas, não conseguia fazer meus trabalhos com toda a dedicação que eu queria dar etc. Então decidi sair de onde estou trabalhando pra me dedicar da forma correta aos estudos.
Pra não dizer que não falei das flores, já recebi uma proposta de Emprego que preenche meus requisitos.
Não tive somente mudanças boas, claro, senão eu seria Alice e o Brasil, o País das Maravilhas, mas como a maioria prevalece, nesse caso não seria diferente. Arrisco em dizer pra vocês que foi o melhor ano de minha vida até então, mas com uma data em especial.
Dia 25 de dezembro de dois mil e doze foi uma data louca, completamente, significativa pra mim. Não sei se foi o “espírito natalino” que fez acontecer, mas enfim. Meu tio, uns dias antes, me ligou quando eu estava com minha namorada e pediu pra falar com ela (até então eles não sabiam nem da minha sexualidade, muito menos do nosso namoro), ele, então, a convidou para nossa festa de Natal que, diferente da maioria das famílias, comemoramos no dia 25, com muito custo e vergonha, ela aceitou o convite e nós fomos e foi muito bom por sinal.
Lá pro final da festa eu fui a algum lugar, que não me recordo agora, e quando voltei, meu tio me chamou, disse que queria conversar comigo.
-         Posso falar com você? – disse ele.
-         Pode, tio, claro. – confesso que fiquei meio perturbada, mas tudo bem.
-         Eu só queria dizer que te amo, te amo muito e também queria que soubesse que sua orientação sexual não interfere em nada, nem na minha vida e nem no que sinto por você. Sempre vou te respeitar, como deve ser feito e sei que você também continuara me respeitando. Afinal, eu tenho minha escolha e você tem a sua. Agora, tenha certeza absoluta de que sua Tia comunga da mesma opinião que eu. A gente não vai te deixar agora.
Foi o suficiente pra eu estar chorando até hoje, praticamente.
Mas como se não bastasse, quando fui contar pra minha mãe o que aconteceu, ela disse:
-         Se fosse de minha vontade, você não seria assim, mas já que isso é de você, eu não posso nem pensar e não vou abrir mão de você.
Ainda to chorando, rs.

Mas enfim, como deu pra perceber, foi um ano agitado, um ano novo e maluco, mas foi, de longe, o melhor ano da minha vida.
Que 2013 seja melhor, então, né?!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Rita.

Eu pensava que do amor eu nada saberia,
era uma desilusão aqui e outra lá, não via mais sentido.
Meu coração estava num eterno leva e traz.
A Rita poderia ter levado meu sorriso e meu assunto,
mas preferiu me acertar em cheio no meio do peito.
Tudo, agora, fazia mais sentido.
Descobri que, sem ela, não sei dizer quem sou eu.
Eu pensava que do amor nada saberia, mas agora estou completa.

sábado, 8 de outubro de 2011

Tatuagem

Ela viu o tempo que passou escorrer, em suas mãos, como se fosse uma enorme, e gosmenta, geléia. Não pensou duas vezes e foi ao banheiro lavar suas mãos, pra tentar tirar aquele peso que se encontrava em cada célula de seu corpo.
Apesar da tentativa, sabia que seria impossível tirar aquilo de si, então passou só uma água, como se estivesse tentando dizer a si mesma que havia tentado, e saiu do banheiro.
Num ato desesperado mergulhou e se agarrou em tudo que lembrasse qualquer minuto que fosse de um tempo distante.
Ela não teve sucesso em tentar tirar aquilo dela e percebeu isso.
Não é possível remover uma tatuagem, você pode sobrepor; você pode tentar apagar da sua pele, mas nunca esquecerá a dor e nem que ela esteve ali.